Residência JO

Idealizado como um retiro de veraneio, é num condomínio residencial no Guarujá – cidade a cerca de uma hora e meia da capital paulistana –, que o projeto dessa casa de praia tira proveito da principal vista para criar soluções que privilegiam a maior privacidade e desfrute de seus espaços de estar e lazer.

Encomendada por um casal de clientes de longa data do escritório, e que passa temporadas no litoral com a família e os amigos, em nossa primeira visita ao terreno entendemos que deveríamos explorar o fundo do lote, com vista ao mar e de onde está situado o acesso ao pé na areia. A frente, por sua vez, com ingresso através de uma rua interna do condomínio e constante transição de moradores, deveria ser mais fechada, enquanto as fachadas laterais, bastante próximas das propriedades vizinhas, careciam de proteção visual.

Dessa leitura, sobre o lote exíguo e platô correspondente ao perímetro edificável, surge a imagem de um volume longilíneo, perpendicular à via de acesso e, amparado por esbeltos beirais. Mantendo a horizontalidade da proporção a partir do exterior e consequentemente, diminuindo a altura total da construção, trabalhamos com a ideia de meio nível. Essa solução quebra a rigidez da espacialidade interior e oportuniza diferentes pés-direitos ao distribuir o programa.

Assegurando privacidade aos moradores, a partir da chegada, o ritmado conjunto de brises verticais em madeira Accoya envelopa a fachada do volume superior, por sua vez, apoiado sobre esbeltos pilares de seção circular dispostos nas extremidades, protegendo os automóveis das intempéries.

De caráter intimista, o hall de entrada é materializado através de um túnel com 2,25 metros de altura recoberto por ripas de madeira Freijó lavado cinza e brises de mesma materialidade, que deixam entrever o jardim tropical que envolve a residência. O espaço é superado por um amplo pé direito duplo com 6,40 metros iluminado por abertura zenital. No bloco disposto na transição do ingresso ao estar, estão alocados o lavabo, depósito e dependências de serviço.

Como uma das premissas programáticas, era essencial que as salas de estar e jantar fossem amplas para a recepção dos convidados. Com isso em mente, delgados pilares pousados sobre as extremidades oportunizam um generoso vão livre central de 14 metros de largura. Protegendo o interior da vista direta aos vizinhos, empenas revestidas em pedra Moledo, ligeiramente mais baixas que o forro, envolvem os apoios e atravessam a faixa das salas até a varanda. No intervalo entre os planos verticais (empenas) e horizontal (laje), o fechamento é realizado por folhas de vidro, sublinhando leveza ao conjunto.

Vale enfatizar que essas saliências, por sua vez, disfarçam um pequeno depósito e lavabo com acesso pelo exterior, além de nichos para lareira a gás e bancada gourmet da varanda.

Configurando um jogo de cheios e vazios, no interior, um monolito recoberto por réguas de madeira resguarda a cozinha, louceiro, despensa e área de serviço.

A comunicação visual entre interior e exterior é garantida através das amplas esquadrias de vidro, que quando recolhidas, integram as salas à varanda, área gourmet e piscina – como um eixo continuo. Reforçando esse conceito, os materiais que recobrem o interior são estendidos ao exterior: o granito no piso e o forro ripado em madeira Freijó. O sentido das réguas direciona o olhar dos moradores à panorâmica.

Sublinhando a harmoniosa relação entre arquitetura e paisagem, os principais espaços se abrem em direção a privilegiada vista do mar. A partir da piscina, posicionada num platô elevado a alguns centímetros em relação ao nível da praia, os moradores desfrutam da panorâmica.

Sobre o pé direito duplo do interior, uma convidativa escadaria articula os três pavimentos, pensada para que a transição fosse a mais prazerosa possível. Como artifício, posicionamos o elemento sobre um jardim interno, iluminado pela ampla claraboia. O eixo faz com que grande parte da casa tenha iluminação permanente ao longo de todo o dia.

No segundo nível, com aberturas em direção à rua, dispomos a sala de entretenimento, equipada com home theater e espaço de jogos. A posição em meia altura permite que a partir do estofado, os moradores contemplem a linha do horizonte no sentido oposto, enfatizando a relação visual à paisagem a partir de todos os pavimentos. Um bloco recoberto por painéis de madeira mimetiza o lavabo de apoio e uma suíte de hóspedes.

Seccionada em dois planos, nesse projeto a cobertura possui dois níveis, com uma delicada diferença de alguns centímetros. Esse desencontro determina um rasgo linear com fechamento em vidro e que, poeticamente, emoldura a copa das árvores, notada a partir da galeria de circulação dos dormitórios.

No pavimento superior, cinco suítes são distribuídas a partir do corredor central. Os dormitórios dos filhos e de hóspedes são alocados nas laterais e protegidos no exterior por painéis de madeira com abertura tipo camarão, que preservam a privacidade sem bloquear a entrada de luz e ventilação natural. Quando completamente abertos, esquadrias de vidro, de altura total de piso a forro, combinadas ao guarda-corpo de mesma materialidade maximiza a iluminação. Na fachada dos banheiros, os painéis são fixos, e nos reservados dos dormitórios dos filhos, ripados do forro transformam-se parcialmente em pergolados coberto por vidro, iluminando a bancada e área dos banhos.

Descortinando-se ao degradê do encontro entre o céu e mar, a suíte master foi estrategicamente posicionada defronte a praia. Assim como nas fachadas laterais, brises de madeira são amparados por esbeltos beirais, que quando recolhidos, traz a paisagem para dentro.

Para o maior conforto – térmico e lumínico –, nos painéis ripados na frente dos quartos desenvolvemos um sistema de folhas dupla de correr, que quando fechado, interrompe o vão de luz e passagem do ar.

Materialmente, a pedido do cliente que nos deu bastante liberdade no desenvolvimento da proposta, optamos pelo emprego de materiais naturais em tonalidades acinzentadas. Para isso, painéis em Accoya – madeira tratada quimicamente para maior durabilidade em exposição às intempéries – recobrem as fachadas, hall de entrada, e volumes interior. Réguas em Freijó revestem o forro; enquanto as empenas limítrofes e piso de todos os espaços sociais são cobertos em pedra. O conjunto determina a sensação acolhedora em harmonia a linguagem estética contemporânea que solidifica o projeto.