Rio de Janeiro, RJ

Rio de Janeiro, RJ

Ficha Técnica

Início
2017
Área construída
6500 m²

Projeto

Arquitetura
Jacobsen Arquitetura
Equipe
Paulo Jacobsen, Bernado Jacobsen, Edgar Murata, Marcelo Vessoni, Christian Rojas, Pedro Henrique Ramos, Gustavo Borges, Eduardo Aparício, Pamela Alecrim
Interiores
Tatiana Kamogawa, Daniella Gomes

O conceito do projeto de arquitetura para o Museu Marítimo do Brasil se baseia em quatro aspectos essenciais:

1 – DINÂMICA ESPACIAL

Propomos um constante diálogo entre o patrimônio histórico, natural e urbano da região, que contempla a Baía de Guanabara, o Pão de Açúcar, o Cristo Redentor, a Ilha Fiscal, a Igreja da Candelária, o Museu do Amanhã, a Casa França-Brasil, construções existentes da Marinha, além dos equipamentos abertos para visitação como o Navio Bauru e o Submarino Riachuelo, mantidos como parte integrante do complexo.

O programa foi dividido em dois edifícios que se elevam sutilmente do piso como uma rampa, resultando em uma arquitetura topográfica que permite o acesso dos visitantes à cobertura e sua plena utilização. Buscamos desta forma estabelecer uma relação harmônica com todos os elementos do entorno e ainda possibilitar o atracadouro do navio-museu Rebocador Laurindo Pitta e das outras embarcações da Diretoria de Patrimônio Histórico da Marinha.

Ainda compondo a primeira premissa conceitual, lançamos mão de uma arquitetura fluida e flexível. A visitação será feita através de rampas com inclinação para acessibilidade, e será dinâmica, promovendo distintas vistas tanto para a paisagem natural da cidade como para os edifícios históricos. Esta dinâmica é reforçada através do pé-direito alto, de vãos no piso e da interação dos edifícios com o exterior. O percurso será inesperado, como uma aventura ou descobrimento, com salas de dimensões variadas, na intenção de fazer o visitante perder a noção da estreita e longa forma do píer.

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2 – FLUXO
O programa do Museu se divide em dois edifícios totalizando 6.516 metros quadrados de área construída.

O primeiro abriga o hall principal com área de acolhimento, bilheteria, loja, além de administração, restaurante e auditório para 180 pessoas. Estes dois últimos com vista privilegiada para o mar, podendo funcionar de maneira autônoma do horário de visitação das exposições.

O segundo edifício contém o corpo do Museu em si, seus espaços para exposição e também recebimento e preparação do material expositivo. O acesso para ambos os prédios é controlado a partir de duas guaritas ligadas ao passeio público.

Para ingresso ao Museu convidamos o visitante a um passeio que se inicia pela rampa de acesso à cobertura do edifício, promovendo desde o primeiro instante a relação de integração do edifício com a natureza e com a cidade ao mesmo tempo. O acesso para as exposições e para o café estão localizados no meio desse percurso, exatamente no eixo focal da Candelária e da Casa França-Brasil. Seguindo a rampa até o final, o visitante encontra uma grande área plana a 12 metros do nível do mar, altura máxima do prédio, espaço que poderá ser utilizado para abrigar atrações da Marinha como o helicóptero Sea King e o carro de combate Cascavel. Entrando no foyer, o visitante tem a oportunidade de contemplar, acima do plano da cidade, uma ampla vista para a Baía de Guanabara, com as Ilhas Fiscal e das Cobras, e para a Candelária, através de generosas aberturas nas laterais do edifício. Integrado ao foyer, encontra-se o café que funciona como um mezanino para a área de exposições.

Iniciando o percurso dentro do Museu, temos uma sala introdutória, com a intenção de marcar claramente a entrada do visitante em ambiente expositivo. Ainda nesse nível temos acesso às salas de exposições temporárias que ao final se abrem como um mezanino para a grande sala de exposições de longa duração no pavimento inferior, cujo acesso se dá também pela sala introdutória, através de uma rampa. No caso de troca das exposições temporárias, estas salas poderão ser fechadas sem prejudicar o fluxo de visitação do Museu.

A rampa de acesso para a sala de exposições de longa duração já expõe peças do acervo, além de surpreender o visitante com vistas para a Baia. Chegando ao nível térreo, o visitante encontra uma sala de grande dimensão com pé-direito de 12 metros e uma abertura igualmente generosa conduzindo seu olhar novamente à relação entre a cidade e a natureza do Rio de Janeiro. Este grande espaço comporta a Galeota D. Joao VI, de forma que ela também possa ser vista de cima, através do mezanino da sala de exposições temporárias.

Partindo desta grande sala, a circulação pelas demais salas de exposições com dimensões e alturas variadas, será dinâmica e imprevisível. O conceito de travessia e descobrimento será enfatizado com experiências em espações escuros, próprios para projeção, ambientes de luz artificial controlada e outros de luz natural abundante. Ao final da visitação encontra-se uma sala para atividades educativas. A última sala tem novamente dimensões grandiosas, marcando o fim da visita, em frente ao navio-museu Bauru.

Próximo a esse local ficará a recepção de material expositivo, com entrada coberta para veículos de grande porte. Aí ficarão também a reserva técnica e sala de montagem e desmontagem de exposições e serviços auxiliares.

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3 – SISTEMAS CONSTRUTIVOS E SUSTENTABILIDADE
A constante, porém controlada exposição à luz natural reduz consideravelmente o consumo de energia elétrica. Essas aberturas são pensadas de forma a contribuir com o devido conforto térmico e ambiental do espaço interno do Museu. Da mesma forma, a total acessibilidade a todas as áreas do Museu e a ausência de elevadores e escadas rolantes contribui para o caráter sustentável do projeto.

Nessa linha de pensamento, optamos por considerar a utilização de material de refugo ou rejeito da indústria naval, reutilizando peças metálicas como elementos de estrutura e fechamento da construção. Em consequência, nosso projeto se emancipa da utilização de sistemas construtivos ou acabamentos de alto custo, proporcionando também pouca manutenção a longo prazo. Consideramos a utilização de sistema estrutural metálico leve, com perfis de mercado, de forma a reduzir as cargas nas fundações do píer.

Ainda nesse conceito, pretendemos reduzir a utilização de alvenarias em tijolos cerâmicos e de elementos em concreto armado, trabalhando com chapas de aço cortén nas fachadas e placas de gesso para as paredes internas.

Para a melhor manutenção do edifício, foi lançada ainda uma bandeja metálica engastada em torno de todo o píer. Tal estrutura também trará segurança para a aproximação de embarcações.

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4 – MARCO ARQUITETONICO
Para a plena inserção do Museu no cotidiano da cidade, elaboramos a cobertura do edifício como um equipamento urbano e uma extensão da requalificação da área portuária, possibilitando o seu total acesso, uso e ocupação.

A composição volumétrica do Museu busca se apresentar como uma extensão do tecido urbano da cidade, em forma e função. Dialoga topograficamente com a questão de acesso, e esteticamente promove uma relação harmônica entre o cenário urbano e natural.

No edifício principal, o volume se eleva sutilmente sobre a água, sem interferir na paisagem. Por meio de linhas compositivas ascendentes, tem-se a discreta ocupação do ambiente urbano, possibilitando a experiência de nos elevarmos sobre o nível do mar, remetendo a um ato de lançar-se sobre as águas, como se estivéssemos navegando rumo a uma aventura marítima.

O edifício menor segue a mesma linguagem espacial, com linhas diagonais que ao se aproximarem do chão garantem o afastamento e possibilitam assim a devida perspectiva do submarino-museu Riachuelo para o observador. A não ortogonalidade das novas construções do Museu se diferencia da estética dos demais edifícios existentes, assinalando a arquitetura de tempos atuais.

Aportado no cais e rodeado por água, o visitante é remetido à ancestral relação entre o homem e o mar, como se estivesse no convés ou no interior de uma embarcação. Sobre a cobertura estende-se o plano da cidade, e abaixo se dá uma experiência por vezes imersa em seu próprio acolhimento, por vezes generosamente trazendo para dentro do volume o deslumbrante horizonte em miradas estratégicas.

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